A Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP) divulga frequentemente em seu site, matérias relacionadas às cirurgias da tireóide. As orientações dispostas a seguir são dadas pelo cirurgião
Dr. Renato de Castro Capuzzo, e fazem parte da sessão de perguntas e respostas do referido site:
ORIENTAÇÕES AOS PACIENTES QUE FARÃO CIRURGIA DE TIREÓIDE
A cirurgia para a retirada de toda a glândula tireóide ou parte dela, é denominada tireoidectomia. O tipo de cirurgia, ou seja, tireoidectomia total ou parcial, irá depender de diversos fatores que o médico irá discutir com seu paciente.
De uma forma geral, a cirurgia de tireóide evolui bem, com raras complicações, mas alguns detalhes devem ser esclarecidos aos pacientes.
RiscosToda cirurgia envolve risco de complicações. Apesar da cirurgia de tireóide ter índice muito baixo de complicações, aqui serão relatadas as mais importantes que o paciente deverá saber:
Alterações da Voz Um a cada 10 pacientes que são operados da glândula tireóide apresentam alguma alteração temporária na voz, enquanto que 1 em cada 250 pode evoluir com alterações definitivas.Isto ocorre devido a proximidade da glândula com os nervos responsáveis pelos movimentos das cordas vocais. Estas mudanças na voz podem ser rouquidão, dificuldade em alcançar notas agudas ou cansaço ao falar que normalmente regridem em algumas semanas, mas que podem perdurar por vários meses. A recuperação vocal é melhorada com fonoterapia através da orientação de uma fonoaudióloga.
HematomaÉ uma complicação temida pelos cirurgiões pois pode por em risco a vida do paciente.Apesar da grande preocupação do médico para que não haja sangramento no pós operatório, pode ocorrer um acúmulo de sangue no local operado(hematoma), podendo levar a dor e dificuldade de respirar. Esta é uma condição que tem de ser avaliada imediatamente pelo cirurgião, que pode decidir reoperar em caráter de urgência
HipocalcemiaJunto à glândula tireóide, existem as glândulas paratireóides, que em geral, são em numero de quatro. Elas são responsáveis pela produção de um hormônio (PTH) que regula o nível de cálcio no sangue. Após uma tireoidectomia, pode haver uma diminuição temporária ou definitiva da função destas glândulas levando a queda dos níveis de cálcio no sangue (hipocalcemia). Felizmente, é muito raro ocorrer uma deficiência definitiva na função que é chamada de hipoparatireoidismo definitivo e quase sempre estão associados com a tireoidectomia total. O paciente pode apresentar como sintomas formigamentos nas mãos, nos pés, ao redor dos lábios e nas orelhas que podem evoluir para câimbras. O tratamento consiste em receber grandes doses de cálcio e vitamina D. Raramente estes sintomas ocorrem em tireoidectomias parciais.
Cicatriz -Todo corte sobre a pele produz cicatriz. Contudo, dificilmente as cicatrizes de tireoidectomia produzem mal resultado estético, pelo contrário, são normalmente discretas. O tamanho da incisão cirúrgica varia de 3 a 15 cm, dependendo do tamanho da tireóide, aspectos anatômicos do paciente, tipo de cirurgia e da experiência do cirurgião em realizar incisões pequenas. As cicatrizes hipertróficas, popularmente chamadas de quelóides, são cicatrizes mais grossas, endurecidas e avermelhadas. Fatores como predisposição racial (japoneses), localização no corpo (tórax), complicações na ferida cirúrgica (infecções) e aspectos técnicos cirúrgicos estão implicados neste tipo de complicação. A exposição solar deve ser evitada diretamente sobre a cicatriz por um período de até 4 meses após a cirurgia. Isto pode ser conseguido com o uso de de protetores solares (Mínimo FPS 30) e visam um melhor resultado estético da cicatriz.
O que levar para o Hospital:
Artigos de higiene pessoal
Exames pré-operatórios vistos no consultório incluindo:
Ultrassom da tireóide
Laudo citológico da punção aspirativa por agulha fina
Avaliação cardiológica
Raio X de tórax
Exames de sangue
Não tomar AAS - Evitar tomar qualquer medicação que contenha ácido acetil salicílico por 10 dias antes da cirurgia. Remédios como AAS, Aspirina, Buferin ou Melhoral, por exemplo, não devem ser tomados. O uso destes remédios aumenta muito o risco de sangramento durante a cirurgia e no pós-operatório.
Jejum - Na cirurgia de tireóide é necessário um jejum de pelo menos 8 horas.
CirurgiaTipo de anestesia - A anestesia geral é a utilizada pela grande maioria dos médicos. Poucos serviços utilizam anestesia local e não foi demonstrado nenhum benefício em relação a anestesia geral, que é mais segura e confortável para o paciente.
Tempo de Internação Hospitalar - É claro que diversos fatores como tipo de cirurgia, complicações clínicas do paciente e evolução pós-operatória influenciam no tempo de internação. Se não houver nenhum problema, a média de internação é de 1 dia, ou seja, o paciente recebe alta no dia seguinte a cirurgia.
Dreno - O local que foi operado produz uma secreção sanguinolenta que é drenada por um mecanismo de aspiração à vácuo, o dreno. Este dreno normalmente está localizado abaixo da incisão cirúrgica e permanece até o momento que o paciente for de alta. Quando o dreno é retirado, é normal que fique saindo um pouco de secreção sanguinolenta pelo orifício do dreno, que vai diminuindo progressivamente até o orifício fechar sozinho, o que dura por volta de 2 dias. Enquanto isso, um curativo com gaze e micropore deve ocluir o local, e deve ser trocado quando fica sujo de sangue, no mínimo 1 vez ao dia. A partir do momento que não há mais saída de secreção, o local pode ficar descoberto.
Curativo - A incisão de tireoidectomia fica coberta por um curativo de micropore. Este curativo é formado por vários pedaços dispostos em paralelo e tem uma tripla função:
proteger a incisão de bactérias e sujeiras
servir como pontos falsos auxiliando no resultado estético da cicatriz
proteger do sol, que é um dos grandes inimigos de uma boa cicatrização.
O paciente sai do hospital com este curativo, que só será trocado no retorno de cirurgia, em consultório. Durante este período, quando o paciente for tomar banho, pode molhar o curativo, devendo secar com uma toalha ou secador de cabelo após o banho.
Pós operatórioNáuseas e vômitos - Alguns pacientes que passam por uma anestesia geral, podem sentir náuseas ou vômitos depois da cirurgia. Normalmente estes sintomas ocorrem no dia da cirurgia e tendem a mehorar bastante no dia seguinte, após uma noite de sono.
Medicações para náuseas e vômitos, ou anti-heméticos, são prescritos de rotina para que o paciente não sinta estes desagradáveis sintomas.
Dor - A tireoidectomia é uma cirurgia que apresenta um pós-operatório pouco doloroso, porém é comum sentir uma sensação de garganta inflamada por até uma semana após a cirurgia. A cada dia que passa espera-se uma melhora gradual.
Tosse - Os pacientes freqüentemente apresentam tosse no período pós-operatório devido a manipulação da traquéia e por inflamação das cordas vocais pela intubação durante a anestesia geral. Este sintoma tende a regredir espontaneamente e medidas como inalação e xaropes podem aliviar os sintomas.
Retorno ao consultório - O retorno ao consultório para reavaliação pós-operatória ocorre de 7 a 10 dias.
Pontos - Os pontos normalmente são retiradas 7 a 10 após a cirurgia.
Alimentação - Não há restrições alimentares específicas para a cirurgia de tireóide. O paciente pode sentir um pouco de dor ao engolir no dia da operação, recomendando-se uma dieta leve. No dia seguinte, este incômodo é bem menor e normalmente está liberada uma dieta geral, respeitando-se as restrições de antes da cirurgia, como dieta para diabéticos e hipertensos.
Restrições - A principal restrição no pós-operatório é quanto ao esforço físico. Devem-se evitar atividades como carregar peso, ginástica, correr ou atividades domésticas onde haja utilização de força. Este cuidado visa diminuir o aparecimento de inchaço e possível sangramento no leito cirúrgico. Isto não quer dizer que haja necessidade de repouso no leito. É permitido andar, subir escadas, desde que com moderação. O paciente pode movimentar o pescoço já nos primeiros dias depois da cirurgia, mas deve evitar traumas na região.
Medicações Antiinflamatórios: São normalmente prescritos por 3 a 7 dias no pós-operatório. Evitam que o paciente sinta dor. Podem causar incômodos como queimação no estômago.
Analgésicos: Apesar da cirurgia evoluir com pouca dor, estes medicamentos complementam o controle da dor que os antiinflamatórios propiciam.
Cálcio: Seu médico orientará o uso de cálcio, principalmente após cirurgia de tireoidectomia total. Ele é prescrito para evitar ou tratar os sintomas desagradáveis da hipocalcemia, como formigamentos e câimbras. São utilizados quase sempre temporariamente, e serão retirados conforme a função das glândulas paratireóides se restabelecerem.
Reposição Hormonal: Não há pressa para se iniciar a reposição de hormônios tireoidianos pois o nível de levotiroxina demora a cair da circulação sanguínea. Estes hormônios poderão ser administrados imediatamente ou alguns dias depois da cirurgia.